sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Quando não se espera
Você está cansada, peças mistas, roupa de terça-feira, a língua não pousa sábia, teve irritações no trabalho, não arrumou as unhas, andou pra cima e pra baixo com as botas, é o dia perfeito para não encontrar nenhum amor. Para descansar e ficar em casa, comendo chocolate e assistindo capítulos perdidos do seriado preferido.
Mas ele surge sem ser convidado. Ele aparece como para contrariar. É um amigo que não prometia atração, um colega que não demonstrava interesse, um conhecido que abre a guarda.
Ontem estava disposta, ontem estava perfumada e irretocável, ontem estava com chapinha e decote, ontem desejava que acontecesse. Hoje se sente um bagulho, acima do peso, acima da idade (se é jovem ou velha dependendo do humor), e ele se oferece, cheio de intenções e malícia, soprando palavras misteriosas, que confundem e a tiram para dançar.
Como explicar que não está depilada? Muitas amigas desistem do compromisso para manter a reputação das virilhas. O homem vai deduzir que ela não está a fim enquanto a razão é outra.
A verdade é essa: ele a convida para sair logo hoje. De repente, não haverá um segundo convite. Aceita contrariada, querendo retornar cedo. Não consegue se desvencilhar e enfrenta a decisão de ir até o fim ou deixar para depois. Arruma dezenas de desculpas infundadas, despropositadas, esfarrapadas como a lingerie que tenta esconder, que precisa terminar um projeto ou que tem reunião de manhãzinha.
Toda mulher teme perder o homem porque não está produzida e preparada. Mas o que o homem mais gosta é de uma mulher desprevenida. Uma mulher que supera os condicionamentos da beleza para se inventar. Uma mulher que surpreenda sua indisposição com a vontade da voz. Uma mulher com cara de quem se acorda, não com cara de quem vai dormir. Uma mulher que não aguarda o melhor momento, mas deixa que aquele momento, tão ínfimo e opaco, despretensioso e discreto, encontrar sua grandeza. É quando ela se dá conta de que terá que tomar banho mesmo nos lábios dele. É quando ela se dá conta de que terá que esticar as pernas para apertá-lo dentro.
Despreparados para o amor, o amor é sincero. Ao invés da sedução partir de frases escolhidas, escolhe qualquer cisco para o ninho e o ensina a voar. Uma gafe, um tropeço, um arrependimento não prejudicam a conversa, o que existe é cumplicidade, que pede água para manter a naturalidade da boca. Vocês não estão bêbados, vocês não estão irresponsáveis, vocês não enlouqueceram, nenhum motivo para esquecer, e a noite se molda aos seios como uma segunda pele.
A noite perfeita não é a noite prometida, com a expectativa de brilhar, a noite perfeita é a que não se espera.
Fabrício Carpinejar
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