sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Olhe devagar e tenha presa



Me lembro de um dia assim do nada, uma aluna me contando que o irmão fez um comentário e eu não ouvi, e parou por ai, fiquei sem saber o comentário e quem era o irmão... algumas pessoas ficam na minha frente e eu não vejo, não sei exatamente que mecanismo é este que a minha mente tem, talvez eu só veja as pessoas que conversem comigo ou que de alguma maneira me chamam a atenção, o que me chama a atenção são coisas velhas, antigas e também o extremamente novo, o que nunca ninguém viu, o que ninguém nunca tocou...ah! isto não existe, desde que o mundo é mundo... tudo é velho, tudo é antigo, mas eu ainda tenho a ilusão de que algum dia em algum lugar eu vou ver algo muito novo e me espantar com isto.
Eu gosto muito de ficar olhando as pessoas e ficar formulando perguntas que nunca terão resposta. Uma vez eu tive um namorado que morava em São Paulo, andávamos de metro e eu adoro ficar olhando as pessoas nestes lugares transitórios, gosto de ver um homem bem vestido e ficar imaginando quem arrumou as suas roupas, quantas vezes ele se olhou no espelho antes de sair de casa, se tomou café, as vezes uma evangélica toda coberta com saia de tergal (eu sei o nome do tecido), cobrindo os joelhos, com o cabelo em um coque perfeito, serenidade no rosto, imagem de Cristo e me pergunto se ela mantem esta serenidade quando uma criança faz birra, fico me perguntando se ela é capaz de vestir uma lingerie vermelha e se deliciar com os prazeres do sexo... e também via muitas outras coisas e muitos outros pensamentos que não tinha coragem de contar bobagens minhas que não valiam a pena comentar, perguntas sem respostas, e o meu tal namorado não compreendia porque eu ficava olhando as pessoas, isto eram coisas minhas ele me perguntava e eu sempre respondia: bobagens. Mas responder bobagens não foi o suficiente e o namoro acabou, eu fiquei três messes chorando desesperadamente, fui a uma igreja briguei com Jesus, procurei ele por 3 vezes, acordei várias vezes a noite desesperada tentando entender o que tinha acontecido, pois enquanto eu subia a rua do prédio eu via ele pela janela chorando, emagreci 11 quilos( imagina o que é isto para uma pessoa de 1,55), mas até que um dia a minha casa foi atingida por um tornado e eu fui chamada de novo a vida, e um amigo quando soube veio imediatamente, me falou das coisas que aconteceu com ele um acidente, um ano em coma, um ano para aprender a andar novamente, de volta a vida? Nada, nisto ele perdeu o amor da esposa que não suportava cuidar de um doente e nem entender que ele ficou com sequelas mentais, não tem hoje uma memória do presente, repete várias vezes a mesma coisa, perdeu o contato com os dois filhos e isto doeu em mim, pois este cara é uma pessoa boa, no dia do acidente era aniversário da esposa, ele estava levando rosas brancas para ela, simbolizando o amor puro que ele sentia, mas enfim este amor não sobreviveu ao acidente e hoje ele vive no passado que ninguém entende, eu faço parte deste passado e as vezes ele olha em um caderninho de anotações o meu nome e me liga, quando isto acontece eu vou até ele e passamos horas rindo e falando bobagens mas em poucas horas tudo isto é apagado, mas nestes momentos eu sei que ele fica feliz, e se eu ligar pra ele assim do nada e marcar um encontro ele diz que não sabe quem sou eu... eu sempre tenho que esperar que ele se lembre de mim e me procure, mas a vida dele agora é assim e porque eu gosto dele tenho que aceitar. Na minha vida a minha grande dificuldade é a aceitação, eu passo horas meditando e tentando aceitar coisas que não me agradam e que não posso mudar, as vezes consigo, outras não.
Tenho visões de futuro que não me agradão, de passado que gostaria de não ter e me envolvo com isto, não gosto das coisas pela metade se tenho que ser infeliz em alguns momentos eu sou assim completamente infeliz, choro até as lágrimas secarem ( isto realmente acontece, é biológico - ficamos sem comer, sem ingerir líquidos e o corpo para preservar os órgãos vitais para de funcionar em algumas coisas), e se tenho que ser feliz, se sinto uma possibilidade eu tento até que todas as possibilidades se esgotem, algumas pessoas não entendem isto, dizem que é loucura, mas eu tento até alguém me provar o que é verdade... da verdade eu pouca coisa sei... mas acredito nela, acredito que alguém em algum lugar esteja realmente interessado em mostrá-la , que tudo o que vivemos tem um sentido, um propósito .
Eu sou uma pessoa que não acredita muito no tempo, ele nos ajuda a apagar alguns sofrimentos, mas também nos atrapalha quando acreditamos nele... quando acreditamos que se ele passar alguma coisa vai mudar, as coisas mudam, mas mudam quando aceitamos, quando nos distanciamos e colocamos um novo olhar e tem alguma coisa que cutuca e que diz: olhe devagar, olhe devagar e tenha presa, tenha presa...
E é isto que eu quero, que você me olhe devagar e que tenha presa....

Nenhum comentário: