sábado, 1 de maio de 2010


A arte de pisar em nuvens
Nós evitamos o vazio, nosso medo e ansiedade surgem da possibilidade de nosso eu não ser real, de nossas identidades não serem tão sólidas como imaginamos. Buscamos existir e nos tornarmos reais por meio do dinheiro, da fama, do amor romântico e da tecnologia. Procuramos por alguma base para fixar os pés e ali nos sentimos protegidos. É impressionante como colocamos energia e vinculamos nossa felicidade a elementos impermanentes (uma pessoa, uma instituição, uma casa, uma cidade, nosso corpo): quando eles flutuam, oscilamos; quando desabam, morremos junto. Por termos medo de viver sem bases, nos agarramos a bases frágeis, como se elas fossem seguras e eternas.



Quando entramos em crise, somos como o Coiote que, ao fugir do Papa-Léguas se dá conta que passou do limite do penhasco e ficou alguns segundos correndo sem chão. Temos a sensação de base até que olhamos para o chão e tomamos um susto: não há nada abaixo de nós! Assim que percebemos isso, começamos a cair e buscamos desesperadamente por outra base. Com a nova sensação de pés no chão paramos de olhar para baixo. De fato, a sensação de segurança vem dessa ilusão, cegueira voluntária. A base dura, portanto, até o momento em que algo nos levanta as pálpebras, até que olhamos novamente para baixo e vemos que estamos há tempos andando sem chão.
Ora, nunca houve penhasco algum! Em nenhum momento de nossas vidas realmente estivemos em um chão seguro. A crise só acontece, pois temos a sensação de perder algo que nunca tivemos. Desde nosso nascimento, estamos andando céu afora, sem porto seguro, sem referencial último, sem certezas absolutas, sem colo incondicional. Não precisamos nos desesperar quando a vida puxa nosso tapete e perdemos o chão: ele nunca existiu.
Curiosamente, ao viver sem bases, ganhamos potência e intensidade. Enquanto buscávamos segurança, deixávamos um pé atrás diante dos mergulhos inevitáveis da vida – no outro, nas artes, no mundo e no amor. Agora, na espacialidade sem sustentação, nos jogamos inteiros, com força total. Já que nosso medo é virar nada, cessar de existir, não ser, corremos em sua direção e nos tornamos um imenso nada, para que tudo seja em nós. Tal processo levou Nietzsche a dizer:
“Vamos matar o espírito da gravidade!Eu aprendi a andar. Desde então, passei por mim a correr. Eu aprendi a voar. Desde então, não quero que me empurrem para mudar de lugar. Agora sou leve, agora vôo, agora vejo por baixo de mim mesmo, agora um Deus dança em mim!”
 Bora buscar este Deus!!!!
Prof. Mara